EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 21 de junho de 2021

sem título

Nas madrugadas silentes
emerge o eu-monstro:
 da escuridão indizível das fomes
vem o desejo de deitar
com o cão que assombra meu sono
e me revira entranhas 
tornando retintos
os sonhares azuis
pelos segundos musgosos
que me arrastam à morte,
me mastigam as vísceras,
me drenam o sangue.
Nas madrugadas silentes,
portanto,
a carne não é mais branca
mas viva lava
e a sombra maltrapilha
se arrasta pelo porão do caos
a se banquetear com sobras
e se esgueirar no mangue dos dias
até ser noite outra vez.
Nas madrugadas silentes
eu [morta] vivo. 

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