EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

sobre a imagem que arrebata meu outro eu

Há de ser bonito. "Há de ser" no tempo indeciso entre palavras doces e rosnares, entre o tempo da calmaria e o tempo da violência do teu instinto macho. Há de queimar. Há de nos arrastar a algum canto desconhecido onde as imagens se desfazem, nuas, criando novas imagens no fundo dos olhos. Hei de quebrar tua espinha e te dizer horrores porque sou feita de remendos. Há de ser turva a água do banho. Há de ser imperfeito. E haverá barulho, medo, escândalo, horror. Haverá gozo. Ternura. Haverá um lábio inferior entre teus dentes. Há de ser inflamado, dolorido. Há de ser retrato a cena da memória. Há de ser intenso, mesmo que a brevidade assole o tempo. Há de ser grande. Há de ser muito. Há de ser loucura, combustão, orgia. Há de ser romance. Há de ser tudo. E também há de ser nada. Há de ser desconhecimento de espera. Há de ser ânsia, ebulição, tormento. Hei de amar teu chão, tuas paredes, tuas frestas. Há de ser eu e tu. Enfim, nós.

2 comentários:

Professor Tácito Alves disse...

Nossa! Nossinhora! As tuas imagens interiores ainda me ativam... em alguma fresta do meu ser, sem permissão, tu te tornas eterna. porque falas as minhas verdades, embora sejam as tuas... porque tuas mãos ainda suam o meu sangue. Cristicamente me salvas dos meus abismos e me fazes pensar em protocolos, pudores, odores, degustações, ventos, tempestades... porque quando te leio me perco e só estas imagens, do que calas, me fazem voltar a mim... tanta saudade nesse mar infinito de ausências!

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Vivemos de ausências - expectativas lindas de tempestades... saudade de tempos [ainda] não vividos.