EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

dos teus silêncios de amor

Na crueza de teus silêncios - tuas palavras poucas - descobri tua língua. Ouvi teus manifestos de amar. E de perambular nesse escuro que é o vazio de tua distância - porque jamais és presença, tamanha saudade a que me condena a alma - descubro-me cega. Vejo corvos em minhas pálpebras. Sinto remansos embebidos em anis e tormentas tomando forma em meu céu azul - meu paraíso e inferno. E sonho teu amor escorrendo pelos meus flancos, transbordado de todos os meus cantos e curvas, embriagando-me poros e garganta. Sou eu, apenas, erotizando tua verdade em mim. Porque me fodes cada vez que falas de amor. Porque sonhas com minha boca, minhas coxas, minha carne quente. Porque espumas em tua mão quando me imaginas por dentro - espuma salgada de teu desejo vibrante. Porque sou o nome que tua boca balbucia no silêncio escuro do teu quarto. E por me amares assim, latejante e homicida, sopro palavras com hálito de amoras em tua direção: espera. Ama. Devora.

Um comentário:

Cynthia Lopes disse...

Fiquei pensando Andressa, como é estranho o que dizemos e como, ao mesmo tempo, tudo parece tão familiar... Creio que tudo vem desta intensidade, desta paixão de existir que de alguma forma nos une, nos devora, é manifesta em nós. Os nossos silêncios gritam, é isso que me soa tão próximo de ti. bjs