EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Dia D, hora H

Atropelamo-nos em frente ao muro dos trilhos, em meio ao caos urbano e calores de 38 graus. All star quicando entre estações no subúrbio. Sol, lua, Vênus no céu de desejos. Um poema, dois livros, maçãs do amor (do rosto) mordidas (trezentas vezes), boca de nuvem, ambrosia. Amassos, fitas, carro de polícia, lava-jato, último ônibus, Baixada à vista. Um bilhete deixado na pele carimbado com a hora não marcada do retorno. Queixo e rosto "felizferidos por barba de amor" ou algo que o valha, profeticamente descrito por Artur da Távola nos idos dos 1970. A doçura pouco discreta da selvageria das paixões intermunicipais, intergalácticas, poéticas e infinitamente sem data de vencimento. Deuses reencarnados. Quem descreverá primeiro o paraíso apocalíptico do tesão? Ruas vazias testemunham o motim de mãos dadas - pernas, pernas, pernas.

O subúrbio agora é inteiro saudade.

Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2022. O dia seguinte. Perdidos estávamos, agora encontrados.)



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