EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 31 de outubro de 2009

Saturday night

A clausura rebenta em silêncio sépia. As paredes cheiram a mofo e a insônia perturba. Lá fora os sons da noite são quase imperceptíveis, intercalados e cadenciados. A lua está quase cheia.
E eis que o monstro que sou sente-se vivo novamente, olhando para o céu escuro com um sorriso indecifrável no rosto.
Hoje eu vou sair só. Hoje vou perambular pelas ruas de pedra cintilante. 
Hoje vou ver a noite morrer.


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

I need to write something, but i have no idea about what...
It might be something about crazy people...
:)

Ia escrever sobre loucura, mas acabei parindo um conto sobre Deus e o Diabo... bem irônico...

Minutas IV

Escárnio II

Escarrei na cara do Escárnio... Quem ri por último realmente dá a gargalhada mais sacana.

Inspiração

A inspiração é ritualística: sempre vem com uma garrafa de vinho e boa música. Se não houver vinho ou música, improvise: faça sexo.

Achados e perdidos

Alguém encontrou minha sobriedade por aí? Só para constar, pois não a quero de volta.

Friday morning...

My back hurts like hell and so does my neck. The sky is fucking blue and i'm stuck in this cold basement again. Sometimes i hate these papers...

And there's no music playing...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Thursday morning...

Suddenly he comes in through the frontdoor like a hurricane and asks me if i would marry him. With the glasses on the tip of my nose i say "ok". I start reading my book again. I see him smiling.
We're old and we don't dance like we used to in the early days, but we're still crazy about each other. I'm 73 and he's 63. It's 40 years from now. He'll be proposing me everyday. And i'll keep saying "i do" to him... till we get really tired and life tears us apart (but i don't really believe this bitch can beat us...)

[Yes, sometimes i have those "and they lived happily ever after" dreams...]

Minutas III

Amor

Desrazão. Exagero. Saudade. Indecência.

Desejo

Ver Amor.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Minutas II

Sono

O sono teria sido perfeito, não fosse um sonho esquisito com zumbis que corriam atrás de todos pela imensa casa.

Sonhos

Não consigo me livrar deles.

Pesadelos

Não sei distingui-los dos sonhos.

Eventos

Há os idealistas e os farristas. Eu sou um pouco dos dois, mas mais idealista que farrista. Infelizmente.

Perguntas e respostas

Gosto da analogia entre perguntas e respostas / namoro e casamento. As perguntas são o combustível que move o corpo e a alma, o mistério que seduz o espírito, o namoro. As respostas são como o casamento: depois de conhecê-las todas, desinteressamo-nos. E começamos, muitas vezes, a nos fazer novas perguntas, a querer desbravar novos mistérios. Por isso não creio em verdades absolutas ou irrefutáveis. Por isso me construo e desconstruo à medida que não me compreendo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

sick and tired

Hoje ele disse que não me quer "doente de saudade". Doente de saudade... sim, eu estou doente de saudade. Quem diria?
Não consigo dormir à noite. Falta alguma coisa... o molde para eu encaixar meu corpo, talvez? Pode ser... O fato é que só durmo em paz quando durmo com ele...

Sete Cidades
[Legião Urbana]

Já me acostumei com a tua voz

Com teu rosto e teu olhar
Me partiram em dois
E procuro agora o que é minha metade

Quando não estás aqui
Sinto falta de mim mesmo
E sinto falta do meu corpo junto ao teu

Meu coração é tão tosco e tão pobre
Não sabe ainda os caminhos do mundo

Quando não estás aqui
Tenho medo de mim mesmo
E sinto falta do teu corpo junto ao meu

Vem depressa pra mim
Que eu não sei esperar
Já fizemos promessas demais
E já me acostumei com a tua voz
Quando estou contigo estou em paz
Quando não estás aqui
Meu espírito se perde, voa longe


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Minutas

O tempo

Parei esbaforida sem saber em que dia da semana estava. Precisava atar novamente minha vida à maldita linha do tempo. O tempo, esse estranho relógio de contar a vida regressivamente...

Memória

Guardo as memórias amassadas que escolho esquecer no fundo de alguma gaveta entulhada de coisas inúteis. Mas sempre há dias de limpeza. Sempre.

Epitáfio

Aqui jaz a loucura, o destemor, o avesso das coisas. O mundo sobreviverá sem a dúvida constante?

Solidão

Foi quando se olhou no espelho que percebeu que havia um imenso cordão de isolamento à sua volta: não havia ruído, movimento ou calor naquela imagem.

Crueldade

Ela sorveu todo o veneno do mundo e sorriu ao regurgitá-lo na boca de seu amante.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

conselho de amiga

Minha amiga "R" estava meio chorosa ontem, em dúvida sobre o que pensar do caso mais recente dela, inconformada com a mudança radical de rumo das coisas.
Bom, eu digo o seguinte: nós mulheres somos sentimentalmente volúveis, nos apaixonamos pela atenção que o outro nos dá, somos suscetíveis a galanteios e sedução, mas isso é perfeitamente explicável. Somos sentimentais demais, viscerais demais, exageradas demais. Quanto ao homem, ele é volúvel à medida que vê seios e bundas e bocas e olhos (mais seios e bundas do que bocas e olhos, claro). É até natural que a fantasia erótica dele seja uma suíte em Berlim com uma penca de mulheres (se ele vai dar conta do recado, aí já é outra história). Mas depois de uma certa idade, há coisas que ficam apenas na fantasia.
O estranho mesmo é o homem que se apaixona perdidamente por uma mulher diferente a cada semana - esse é de se desconfiar! A menos que ele tenha 15 anos, literalmente esqueça. Se ele é indeciso e não sabe o que quer, pior ainda. Muito provavelmente ele é um grande babaca. E grandes babacas acabam sozinhos, como o burro que morreu de fome entre os dois montes de feno.
Então, minha amiga, bola pra frente! O cara que vale a pena é aquele que te ama com a mesma intensidade todos os dias, apesar de tudo - cara amarrotada quando acorda, tpm, celulite, quilinhos a mais - e tenta te reconquistar diariamente. Isso é meio clichê, mas não é que faz sentido?
Galantear uma mulher diferente a cada dia é fácil. Difícil mesmo é mantê-la interessada.
Então, sorria: você acaba de se livrar de um carregamento de inutilidade.
;)


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Escárnio

Esbarrei com o Escárnio dia desses: com as mãos nas ancas e meu inconfundível ar de cinismo o encarei e, com toda pompa e circunstância, mandei que ele se fodesse.


terça-feira, 13 de outubro de 2009

insônia - ainda sobre a saudade...


Despi-me de minha camada mal lapidada e diamântica - ah, cansaço de sono tardio e solitário... Fecho os olhos entre pensares e teus suspiros e me reviro em teu suor. A cama é fria e detesto o gosto do sono. Não durmo - repouso apenas. Não que tua paz não me apascente a alma: o pensar de que tudo passará em breve é que me queima o juízo. Por que não posso atar teu corpo à cama e desligar o tempo? Podemos viver aqui para sempre? Podemos morrer aqui? Tem hora para voltarmos ao mundo?
Desligo a tv. Finjo que é noite. Aperto os olhos e passo minha perna por cima da tua. Para, tempo! Para! Maldito relógio de contar segundos regressivamente... Essa coisa estranha me revira o estômago, me enjoa. Será medo ou a bebida da noite passada? Dúvida molhada e sombria. Meus dedos enlaçam os teus e tremem. Meu corpo inteiro chora. Não sei o que tenho. É o alcool ou o contorno que deixarás nos lençóis? É a minha intimidade privada de luz. Será o vazio que a falta da tua presença - ainda não partida - me faz?
Minha insônia é o desassossego de um intervalo seco, de folhas amarelas, de ventos uivantes. Ainda tenho medo de ventos uivantes. É o pó que me cega os olhos e levanta o vestido. É a tempestade que me assombra. É a espera das noites que despertarão eternas em manhãs sem despedidas.
É saudade, apenas.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

utopia

Minha utopia é cinzenta,
disforme, caótica,
manchada de tinta,
orgia verbal.

Minha utopia é Pasárgada,
o longínquo inferno,
virgem faminta,
fonema carnal.

Minha utopia é oca
cansada, vadia,
descrente, macia,
poema vitral.

Minha utopia é boêmia,
devassa, cretina,
mulher descabida
cansada da vida
da foda e da lida
da porra do mundo real.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

a saudade

Eu te arranho com os dentes e com a voz rouca de saudade. Arranho teu rosto com um olhar que fere, uma certa mágoa, um resquício de volúpia. Ponho-me em movimento, elíptica, a dizer-lhe sandices em silêncio. Mas o meu silêncio faz festa, barulho, música. O teu silêncio fere-me mortalmente, é arma letal contra minha loucura. Tua falta de verbo maltrata esses bichos que eu sou, essa coisa que eu sinto. Deitamo-nos sobre amenidades e lavanda, onde os pecados não são ditos. Há apenas desejos e o resto cobre-se de mistério. Sente que há cadência no palavrear? É o bolero que toca em silêncio no quarto, na esquina de nossas transversais. Há saudade na morte e muito mais saudade na vida. Não houve promessa, adeus, ternura. Há a saudade. Apenas.

domingo, 4 de outubro de 2009

Pois sim: não sou a pessoa mais paciente do mundo. E realmente preciso dormir. Aliás, não sei por que fiquei acordada até agora.

Já dizia Balzac...

"Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis para um rapaz. Com efeito, uma jovem tem ilusões, muita inexperiência, e o sexo é bastante cúmplice do amor, ao passo que uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem a fazer. Lá onde uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas à do amor, a outra obedece a um sentimento consciente. Uma cede, a outra escolhe."


votos


Não quero fazer votos de amor eterno ou amor futuro. Quero fazer votos de amor presente, de amor onde se vive um dia de cada vez. Quero amar no presente e com a urgência do último dia e, assim, não deixar que as coisas da rotina atrapalhem os momentos nossos. Eu quero compreender a rotina e aprender a conviver com ela (porque ela existe, é real e mais duradoura que o amor). Quero transformá-la em festa. Quero fazer dela a terceira ponta de um ménage sem dias contados para acabar. Mas não quero que acabe. E também não quero que "a morte nos separe", pois isso significaria nunca mais ouvir sua voz, brigar com você, tomar café juntos, falar dos amigos esquisitos, ficar magoada com a sua teimosia ou aturar seus rompantes de fúria. Quero que haja apenas eu e você, que sejamos mais do que pessoas que se amam - pessoas que são companheiras de vida. Porque eu quero que haja apenas nós dois quando os dias estiverem nublados ou quando houver céu de brigadeiro. Porque esses instantes são únicos e não podem ser refeitos, mas geralmente conseguem ser desfeitos para nunca mais.
Com alguma sorte, desejo que você me compreenda, me aceite, me deixe quieta quando meu gênio estiver faiscando. Quero que aceite minha liberdade e minha independência, assim como meus momentos infantis e fracos, meus segundos de insegurança e intolerância. Porque eu sou difícil, eu sei. Todo mundo é.
Quero conseguir te beijar nos seus dias de mau humor - aliás, quero te beijar sempre. E isso é complicado, pois os casais se esquecem dos motivos que os fizeram chegar até ali, no auge da rotina. E eu digo: se nós conseguirmos, é porque decidimos acreditar: acreditar que conseguiríamos ficar juntos e conviver com a rotina - ou sobreviver a ela. Decidimos acreditar que não há razões para nos amarmos, mas que há incontáveis motivos para querermos estar juntos. Apesar de tudo.

sábado, 3 de outubro de 2009


Era meio-dia e era hora
de minh'alma enroscar-se à tua
e fundir meu corpo ao teu
por um momento que perdura
infinito instante de fúria
de bocas e tilintar de beijos
de água sorvida de lábios teus
água de poesia tua
fluidez de gozo meu.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"E desde então, sou porque tu és
E desde então és,
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás... Seremos..."

(Pablo Neruda)

ai, ai...

Estou tentando escrever algo decente, mas acho que a overdose de concursos da última semana me esgotou...
Totalmente sem criatividade para contos... Totalmente.