De repente acordo me revirando por baixo das estrias, dos encaixes
desencontros, dos remendos. Dobradiças me mantêm ereta. E não é o medo
que me emudece, é a falta dele. É a paz ensurdecedora. E percebo que o
que me move é o caos, uma guerra sempre inacabada, os vícios, a loucura.
Há uma contenção insuportável para o que há de monstruoso e que é tão
amável aos meus olhos e paladar. Porque a estranheza mantém vivo esse
desejo réptil que se arrasta por baixo da pele, da carcaça outrora
inquieta, e sinto falta do gosto imaginário de sangue na boca. Dos
cheiros ácidos. Do desejo de quase morte e sons guturais. Porque de
repente tudo é morfina e frio. Oco. Abstinência.
Sinto falta da inconstância molhada do que há por dentro. Perdi-me da
violência das marés. Mas sinto que meu demônio me espera ao pé da cama -
grave, tenso, violento. E com ele vem a cadência pulsante e destruidora
e hemorrágica que minha língua-víbora apaziguou com outra droga.
E de lamber novamente o espelho, expurgo de minha embriaguez a besta
crua da ferida translúcida. Meus estilhaços me sorriem com deboche.
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