Essa coisa de fúria mal lavada, indigesta, não cifrada. Esse bicho que consome de dentro para fora. Essa alforria duvidosa - uma liberdade que ainda não me fez totalmente liberta, pois continuo escrava de mim. Não consigo me desvencilhar de mim. E esse eu tem aquela outra - aquelas outras todas. E ser múltipla também é ser decadente, escória, espelho da indecência de gente forte. E ser forte também é ser fraco, mas sem suavidade: é ser fraco e grave. E essa força estilhaçada corta a carne e é incompreensível. Mas ainda prefiro ser essa dúvida constante a uma verdade irrefutável qualquer. As dúvidas movimentam-se, coleantes. As dúvidas geram possibilidades, mas também escavam feridas.
Aí, ele me pergunta:
- Que bicho és?
E com olhos transparentes respondo:
- Não sei. Mas não é exatamente isso o que me torna interessante?
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