Salomé desabrochou para a puberdade aos 11 anos. O corpo começava a tomar formas que chamavam atenção de olhos masculinos. Até mesmo os de seu pai. E assim foi traçado o destino de Salomé.
A pequenina cidade de interior escondia segredos em suas esquinas, segredos de famílias, segredos que são levados para o leito de morte. Com Salomé e sua família não seria diferente.
Aos 11 anos, Salomé não entendia certas coisas que aconteciam à sua volta, principalmente as coisas que aconteciam na ausência de sua mãe. Seu pai, homem grande e de feições duras, porém belas, não resistiu aos encantos que surgiam com o alvorecer da puberdade. Tocava a pequena Salomé, e a felação seguia pelas tardes em que a mulher saía para as compras. A menina sentia nojo e culpa, medo e revolta.
Aos 15 anos, Salomé já era quase mulher. O corpo tornara-se alvo dos desejos mais indecentes de todos os homens da cidade. E sua mãe começava a desconfiar dos olhares que o marido lançava à guria.
Numa tarde quente de março, Salomé refrescava-se no quintal de casa, quando sua mãe saiu para fazer compras. E, não diferente de todas as outras tardes desde seus 11 anos, seu pai a procurou. Desejava a graça osculante da boca de Salomé. Ela chorava, e dizia que não podia porque sentia sede, porque precisava de água, e chorava, chorava. Ele tentava segurá-la pelos cabelos e ela, pela primeira vez, reagia.
Em meio à resistência da pequena, o retorno da mãe. E o escândalo. A mulher surrou a filha, acusando-a de ter seduzido o pai, xingando-a dos nomes mais bárbaros, indiferente à dor e aos anos de sofrimento mudo de Salomé.
E foi assim que decidiram (mãe e pai) colocar a menina para fora de casa. Logo na manhã seguinte, ordenaram que um empregado a levasse para a cidade vizinha, a um lugar chamado Moulin Rouge. Nem de longe era a Moulin Rouge de Montmartre, era apenas um puteiro luxuoso no interior da Bahia, onde velhos coronéis divertiam-se e bebiam todas as noites.
Salomé chorou a viagem inteira: chorou por não ter encontrado abrigo nos braços da mãe, chorou pela mentira que o pai sustentou, chorou pela culpa que não tinha.
Chegando à cidade vizinha, a pequena foi largada à porta do Moulin Rouge, com um bilhete que deveria ser entregue à dona do estabelecimento. O empregado deu as costas e tomou o caminho de volta.
Uma simpática senhora surgiu em um robe vermelho de seda e, admirada com a beleza da menina, ofereceu-lhe abrigo sem pestanejar.
Apesar da vida confortável e da boa educação que tivera, Salomé jamais havia estado em ambiente tão refinado. Olhava ao redor, assustada, com o rosto inchado de quem chorava há 4 anos.
No primeiro ano de sua estada, Salomé apenas observou o movimento noturno do lugar, podendo transitar livremente entre as putas e os coronéis, sem que tomasse parte de nada. Os velhos, enlouquecidos com a jovem e fresca Salomé, faziam ofertas ricas à dona do bordel. Alguns queriam apenas tirar-lhe a virgindade, outros queriam comprar o direito de poder tê-la, exclusivamente, todas as noites. Mas a velha senhora recusou todas as propostas.
Prestes a completar 18 anos, Salomé decidiu fazer parte daquilo tudo. Ofereceu o corpo e os serviços à sua protetora, como forma de agradecimento pela acolhida. No fundo, o que Salomé desejava era vingar-se da figura do pai, entregando-se aos velhos, deixando que eles tivessem o que ele nunca pôde tomar, fazendo com que todos estivessem a seus pés e a adorassem como a uma divindade.
E houve a primeira noite. A inocência encardida de Salomé foi tomada pelo maior lance em moedas.
Os anos correram rápidos e rasteiros e Salomé tornou-se a puta mais cara do Moulin Rouge. Era celebridade. Era a mais bela de todas. Tornou-se a mais habilidosa, a mais especial. Enriquecera a velha dona do bordel - que agora chamava de mãe - e vestia-se das sedas mais finas, perfumava-se com as lavandas mais caras. Seu quarto era só seu, já não dividia mais com as outras moças.
Aos 30 anos, por ocasião da morte da cafetina, Salomé tornou-se dona do Moulin Rouge. Continuava sendo a mais cara, a mais procurada, aquela que punha de joelhos os decrépitos e ricos coronéis. Mas até então, não sabia o que era amar um homem.
Mais uma noite caiu e Salomé desfilava em meio aos clientes forçando sorrisos que não sentia. Estava cansada. Viu aproximar-se o seu primeiro cliente, aquele que havia comprado sua virgindade. A seu lado um jovem rapaz que deveria estar em torno de seus 20 anos, encantador, com os olhos verdes mais belos que já havia visto. O velho senhor o apresentou a Salomé como seu filho. Os olhos encontraram-se e, pela primeira vez, Salomé sentiu o peito aquecer e o pulso acelerar. Sem ouvir o que o velho dizia, Salomé estendeu a mão ao jovem rapaz e o conduziu aos aposentos que ficavam no andar superior.
Sozinhos, perderam-se entre os lençóis. Salomé dançava na cama, matando a fome do jovem, ensinando o que havia aprendido no decorrer dos anos. Ao mesmo tempo, o rapaz a ensinava lições que nunca havia tomado antes. Estava ensinando Salomé a amar.
Salomé estava feliz. Aquele seria seu último cliente.
Aos 11 anos, Salomé não entendia certas coisas que aconteciam à sua volta, principalmente as coisas que aconteciam na ausência de sua mãe. Seu pai, homem grande e de feições duras, porém belas, não resistiu aos encantos que surgiam com o alvorecer da puberdade. Tocava a pequena Salomé, e a felação seguia pelas tardes em que a mulher saía para as compras. A menina sentia nojo e culpa, medo e revolta.
Aos 15 anos, Salomé já era quase mulher. O corpo tornara-se alvo dos desejos mais indecentes de todos os homens da cidade. E sua mãe começava a desconfiar dos olhares que o marido lançava à guria.
Numa tarde quente de março, Salomé refrescava-se no quintal de casa, quando sua mãe saiu para fazer compras. E, não diferente de todas as outras tardes desde seus 11 anos, seu pai a procurou. Desejava a graça osculante da boca de Salomé. Ela chorava, e dizia que não podia porque sentia sede, porque precisava de água, e chorava, chorava. Ele tentava segurá-la pelos cabelos e ela, pela primeira vez, reagia.
Em meio à resistência da pequena, o retorno da mãe. E o escândalo. A mulher surrou a filha, acusando-a de ter seduzido o pai, xingando-a dos nomes mais bárbaros, indiferente à dor e aos anos de sofrimento mudo de Salomé.
E foi assim que decidiram (mãe e pai) colocar a menina para fora de casa. Logo na manhã seguinte, ordenaram que um empregado a levasse para a cidade vizinha, a um lugar chamado Moulin Rouge. Nem de longe era a Moulin Rouge de Montmartre, era apenas um puteiro luxuoso no interior da Bahia, onde velhos coronéis divertiam-se e bebiam todas as noites.
Salomé chorou a viagem inteira: chorou por não ter encontrado abrigo nos braços da mãe, chorou pela mentira que o pai sustentou, chorou pela culpa que não tinha.
Chegando à cidade vizinha, a pequena foi largada à porta do Moulin Rouge, com um bilhete que deveria ser entregue à dona do estabelecimento. O empregado deu as costas e tomou o caminho de volta.
Uma simpática senhora surgiu em um robe vermelho de seda e, admirada com a beleza da menina, ofereceu-lhe abrigo sem pestanejar.
Apesar da vida confortável e da boa educação que tivera, Salomé jamais havia estado em ambiente tão refinado. Olhava ao redor, assustada, com o rosto inchado de quem chorava há 4 anos.
No primeiro ano de sua estada, Salomé apenas observou o movimento noturno do lugar, podendo transitar livremente entre as putas e os coronéis, sem que tomasse parte de nada. Os velhos, enlouquecidos com a jovem e fresca Salomé, faziam ofertas ricas à dona do bordel. Alguns queriam apenas tirar-lhe a virgindade, outros queriam comprar o direito de poder tê-la, exclusivamente, todas as noites. Mas a velha senhora recusou todas as propostas.
Prestes a completar 18 anos, Salomé decidiu fazer parte daquilo tudo. Ofereceu o corpo e os serviços à sua protetora, como forma de agradecimento pela acolhida. No fundo, o que Salomé desejava era vingar-se da figura do pai, entregando-se aos velhos, deixando que eles tivessem o que ele nunca pôde tomar, fazendo com que todos estivessem a seus pés e a adorassem como a uma divindade.
E houve a primeira noite. A inocência encardida de Salomé foi tomada pelo maior lance em moedas.
Os anos correram rápidos e rasteiros e Salomé tornou-se a puta mais cara do Moulin Rouge. Era celebridade. Era a mais bela de todas. Tornou-se a mais habilidosa, a mais especial. Enriquecera a velha dona do bordel - que agora chamava de mãe - e vestia-se das sedas mais finas, perfumava-se com as lavandas mais caras. Seu quarto era só seu, já não dividia mais com as outras moças.
Aos 30 anos, por ocasião da morte da cafetina, Salomé tornou-se dona do Moulin Rouge. Continuava sendo a mais cara, a mais procurada, aquela que punha de joelhos os decrépitos e ricos coronéis. Mas até então, não sabia o que era amar um homem.
Mais uma noite caiu e Salomé desfilava em meio aos clientes forçando sorrisos que não sentia. Estava cansada. Viu aproximar-se o seu primeiro cliente, aquele que havia comprado sua virgindade. A seu lado um jovem rapaz que deveria estar em torno de seus 20 anos, encantador, com os olhos verdes mais belos que já havia visto. O velho senhor o apresentou a Salomé como seu filho. Os olhos encontraram-se e, pela primeira vez, Salomé sentiu o peito aquecer e o pulso acelerar. Sem ouvir o que o velho dizia, Salomé estendeu a mão ao jovem rapaz e o conduziu aos aposentos que ficavam no andar superior.
Sozinhos, perderam-se entre os lençóis. Salomé dançava na cama, matando a fome do jovem, ensinando o que havia aprendido no decorrer dos anos. Ao mesmo tempo, o rapaz a ensinava lições que nunca havia tomado antes. Estava ensinando Salomé a amar.
Salomé estava feliz. Aquele seria seu último cliente.
6 comentários:
Que a Salomé seja feliz para sempre.
Shall it be...
Andas misteriosa. Tuas metáforas consomem meu pouco juízo.
Por vezes fica difícil traduzir-te.
I see mistery, fog.
BTW, de quem são os olhos?
Os olhos verdes mais lindos já vistos... Os olhos que encantaram Salomé.
E tudo é mistério...tudo.
Parafraseando, do outro post, o seu amigo José, garoto de sorte esse dos olhos verdes.
O meu lado romântico me faz desejar que o garoto (provavelmente rico) apaixone-se e a tire dessa vida, mas o meu lado prático me faz temer uma leve tragédia grega...
Texto perfeito. Queria ter essa capacidade de resumir uma história tão rica em tão poucas linhas.
Tudo é possível, Rico...
Lancei a pobre Nina ao inferno, deixei Marie quase enlouquecer, matei Genevieve e Juliette... Salomé merecia ser feliz...
Garota de sorte essa Salomé...
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