Não há poesia naquele canto da casa
há um desvio antes de lá
de onde blindo o que vaza dos poros
e a náusea constritora engole as horas
maltratando o tempo.
E pelo chão da cozinha os dejetos-destroços
de maltrapilhos desejos
vagabundas lembranças inexistentes
de orgias que não mancharam as paredes
nem deixaram marcas visíveis na matéria que me cobre
que me cerca e me envolve
do que sou e não sinto e sinto quando estou.
Não há poesia no canto do corpo
onde não houve pouso
onde não houve dano, ferida ou dor
onde o esquartejamento de amor não causou repulsa
onde não houve ódio ou confissão
do indecente desejo de matar-morrer
desses cantos de boca monossilábicos
e ácidos e famintos do que é secreto aos olhos.
Não há poesia sem confissão.
Não há poesia.
Não há.
Não.
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