Cada vez que me pergunto "o que é o amor, afinal?" penso que o amor não existe. Este amor, circunscrito na palavra, é estranho, limitado, reto. Existe, sim, a forma de amar, o meio de querer cheio das curvas de cada um. Então o amor é ação. É verbo. É amar, ao invés de amor. O substantivo é conceitual e não impulsiona. O verbo exige movimento, postura, direção. Exige que eu faça algo. Empurra-me para o outro. O amor, este conceito estático, não me interessa. Eu preciso de batalha, combate, força. Talvez seja por isso que os relacionamentos morram: vivem mais no conceito do que na ação. O amor é pano de fundo, é cenário. O amar é o que eu faço ao outro a cada instante. E não é isso, afinal, que nos une ou separa?
Cada um sabe o que é amar para si.
"Soneto XVII - Pablo Neruda
Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho."
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