Ela acende um cigarro a cada três minutos. Traga como se cada um fosse o último, como se precisasse ingerir toda a fumaça de uma só vez antes de morrer. Mas a morte não vem.
Ela se droga cada vez que o corpo pede, quando transpira e treme. Vende o corpo por alguns trocados na imundície dos cantos escuros pelas madrugadas. Ela sorri à beira do cais - e à beira do caos - tentando imitar as putas aristocráticas, seduzindo qualquer um por qualquer coisa. Um verme oferece um punhado de balas por sua boca. Os olhos brilham com a possibilidade de adoçar a boca que só sabe sentir o amargo do sêmen e o azedo do vômito. Ela se ajoelha sem hesitar.
Ela caminha trôpega pelas vielas contando moedas quando o dia amanhece. Compra um maço de cigarros e um pão que devora com unhas e dentes sujos. Senta à sombra do beco e retoma a rotina do vício até esgotar o último centavo, até o sol baixar e a noite trazer o disfarce perfeito aos indigentes e desgraçados.
Mais uma vez ela sobe ao picadeiro de sua pequena desgraça, oferecendo-se a quem quisesse por qualquer miséria. É uma peça à venda e avariada pelo degeneração e libertinagem.
Enquanto pende na vitrine da escória, apodrece por dentro. Feito carne.
Um comentário:
Pesado, amargo, azedo. Mas extremamente bem escrito e real. Nem só de rosas vive a mulher...
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