sábado, 18 de outubro de 2008

sentidos...



Quartos escuros, mesas vazias, tristes monólogos. Sorrisos mecânicos e humores ácidos. Os cinzeiros sujos e as meias garrafas de uísque denunciam a solidão daqueles que observam, destacados da grande multidão.


Comentários lacônicos balbuciados entre dentes mal são ouvidos. E os olhos julgam o desconhecido, pela necessidade racional da classificação do mistério: não contentam-se em apenas ver. Talvez
essa falta de tato justifique a falta de tato em relação ao mundo. A idéia que se compreende aquilo que se vê é falha, até mesmo estúpida. Olhos são como gatos, traiçoeiros, capazes de ludibriar seu próprio dono, ou quem quer que ouse desvendá-los. Eles mesmos possuem seus próprios mistérios, alguns irreveláveis. Mas tratam de desvelar os véus alheios, com a tola pretensão de poder entender, conhecer, julgar.

Com os olhos eu vejo; com todo o resto, enxergo. E é quando fecho os olhos que consigo realmente sentir o mundo ao redor. Só enxergo além do óbvio quando estou absorta na cegueira, quando a claridade dá espaço às trevas, quando a alma voa.

Quando estou cega sou toda sentidos.



2 comentários:

  1. Olhar o mundo
    Com a coragem do cego
    Ler da tua boca as palavras
    Com a atenção do surdo
    Falar com os olhos e as mãos
    Como fazem os mudos

    Diário de Cazuza - 1978

    E sentir com a alma. Quando os sentidos não fazem sentido, só ela me protege da confusão.

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  2. Por alguma razão esse texto fez eu lembrar de quando nos conhecemos. Da época que eu caí abismada no meio do Dark Orkut e vc era uma das poucas pessoas sãs(é assim que escreve?) por lá. Enquanto eu lia, a imagem de eu, parada esperando ônibus num dia de chuva enquanto lia a primeira carta que vc me mandou veio a mente.
    Sei lá oq foi isso. Mas foi um flash back legal. Good times...
    Chegando em casa vou te escrever. E quero resposta, mocinha.

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